segunda-feira, 6 de maio de 2013

Consumidor consumido


Muito além do amadorismo e ainda mais além da incompetência, parece-me que o maior problema que está a reger atualmente o setor dos prestadores de serviço reside na transferência de responsabilidades ao próprio consumidor. Ou seja: além de termos de pagar e de sermos muitas vezes mal atendidos, agora precisamos também arcar com os conhecimentos, as habilidades e até as ferramentas que deveriam ser inerentes à pessoa e/ou à empresa que está a prestar tal serviço (pelo qual você, consumidor, paga, reitere-se). O cenário é preocupante, pois consolida a tendência no mundo moderno de transferir as responsabilidades, passar adiante o abacaxi, fazer cada vez menos em troca de cada vez mais, conquistar o máximo viável por meio do menor esforço possível.
Para sustentar a tese, vamos aos exemplos práticos recentemente vivenciados pelo cronista/consumidor, a título de ilustração. Em Porto Alegre, peguei um táxi em um ponto, no bairro Menino Deus, e pedi ao motorista que me deixasse no centro, defronte ao Theatro São Pedro. Corrida rápida e simples, porém, após arrancar, o motorista afirmou não saber o caminho e pediu que eu o fosse conduzindo. Ora, fosse assim, usava eu meu próprio carro, ou, no melhor das hipóteses, dividiria com ele o custo da corrida, afinal, cabe a ele conhecer os trajetos ou utilizar o GPS (“não sei usar, senhor”). Lição: conhecer os detalhes dos trajetos ao pegar táxi em Porto Alegre.
Outro dia, chamei o desentupidor de ralos para vir à minha casa desentupir um ralo que entupido estava. Chegou, analisou a situação e pediu se eu dispunha de “um ferrinho comprido ou uma mangueira”, para ele executar o serviço. Aham. Lição: ao chamar prestadores de serviço, certificar-se de possuir em casa as ferramentas que cabem a ele utilizar para a execução da obra.
Ando com medo do que me espera ao ir a um restaurante e pedir um risoto de camarão. Terei de eu mesmo limpar os camarões na cozinha? Não deixarei de ir a restaurantes, mas, por segurança, pedirei singelos ovos fritos. Creio que me garanto em uma rodada de ovos fritos.
Mas a maior lição que fica é: a gente consome e nunca vê tudo.
 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 3 de maio de 2013)

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