sexta-feira, 2 de março de 2012

O que nos traz a maré

Sou viciado em controle remoto, para desespero de minha esposa, que não consegue entender por que diabos pulo de canal justamente quando a Lilian Pacce está compartilhando aquela imprescindível dica de moda e eu záz! Sou, admito, insuportável. Meu pacote de tevê por assinatura oferece cerca de 40 canais e, via de regra, à noite, quando a família (eu, a esposa e o gato) se acomoda no sofá, ponho-me a administrar o controle remoto e tonteio todo mundo percorrendo para cima e para baixo a grade, ininterruptamente, sem me fixar em programa algum. Só o que se mexe é meu dedão na tecla do canal e os olhos de todos, piscando por reflexo a cada nova sintonizada. É exasperante (para eles, lógico).

Noite dessas, o imponderável aconteceu e estacionei em um canal bem no finalzinho da exibição do filme “Náufrago”, de Robert Zemeckis, lançado em 2000 e estrelado por Tom Hanks, uma ilha deserta e uma bola de vôlei chamada Wilson. Gosto desse filme. Assisti a ele no cinema em fevereiro de 2001 e escrevi aqui no Pioneiro, na época, uma crônica inspirada em um aspecto da trama que me chamou a atenção. Agora, revendo o final, escrevo outra, aproveitando que meu reflexo condicionado entre dedão e controle remoto me proporcionou uma pausa vital.

Todo o mundo assistiu ao filme “Náufrago” ou, no mínimo, nessa Era Google, sabe do que se trata: Tom Hanks sobrevive à queda de um avião em uma ilha deserta e, durante quatro anos de solidão e desespero em meio ao nada, consegue manter-se vivo a partir da reunião de forças que nem ele sabia possuir, a começar pela determinação e a esperança. Uma certa manhã, a maré traz à praia, inesperadamente, a vela de um barco naufragado, que lhe permite enfim vencer a rebentação com uma jangada manufaturada por ele mesmo, lançar-se ao alto-mar e finalmente ser resgatado. “Não dá para perder a esperança. É preciso sempre estar pronto para acordar para mais um dia, porque nunca se sabe qual a surpresa que a maré pode nos trazer amanhã”, é o que reflete, no final, o personagem.

Ótima lição, que vale para a vida de cada um. Até porque, poucas coisas seriam piores do que cair, de repente, em uma ilha deserta. E sem controle remoto!!!

(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 2 de março de 2012)

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