sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Filosofia de sexta

Certa vez um repórter que me entrevistava pediu que eu resumisse meu próprio perfil em algumas poucas palavras. Criou-me ele com essa demanda tamanha paralisia cerebral que tenho a sensação de que, respondesse o que quer que fosse, permaneceria sempre sendo infiel à verdade. Não pelo fato de eu me considerar pessoa complexa e significante demais para ser resumida em pouca palavras, meu ego não me leva a tamanhas lonjuras. Mas por ser esse um questionamento que considero um dos mais inquietantes da existência humana: como exatamente somos? Quais os parâmetros que devemos utilizar para definir a essência daquilo que torna cada um de nós único e inigualável frente aos demais bilhões de habitantes do planeta?
Nossa tendência, quando confrontados com o tema, é logo oferecer a visão que possuímos de nós mesmos como a resposta mais equalizada com a realidade. Quem sou eu? Eu sou como eu mesmo me vejo, e ponto final, afinal, “qua comando mi”. Porém, a visão que temos sobre nós mesmos é apenas uma ponta do emaranhado novelo que se chama nossa personalidade.
Tão ou mais importante quanto a visão que temos de nós mesmos é a forma como os outros nos veem. O outro (e todos os outros) não tem acesso a nossas motivações mais íntimas, aos pensamentos e sentimentos que movem nossos atos. O outro só vê a concretização de nossos atos, e é por meio disso que vai forjando em seu próprio íntimo a visão que nutre sobre aquilo que somos. Minha timidez pode ser detectada como arrogância, só para dar um exemplo de fácil digestão.
E não é só isso. Também sou aquilo que eu mesmo penso que os outros pensam sobre mim. Ou seja, se eu me vejo como tímido, pode ser que eu creia que Zuleika me julgue prepotente. Quando, na verdade, Zuleika me vê é como energúmeno mesmo, mas eu não sei de nada. E para finalizar, somos também aquilo que os outros acham que nós pensamos de nós mesmos. Eu sou tímido, acho que Zuleika me vê como arrogante, Zuleika na verdade me vê como energúmeno mas ela pensa que eu, energúmeno que sou, me vejo como gênio da lâmpada.
O que somos, então, afinal das contas? Ora, a soma de tudo isso, o que nos torna indecifráveis e instigantes esfinges para nós mesmos.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 20 de janeiro de 2012)

2 comentários:

Adriano Goulart disse...

Olá, Marcos! Já que o assunto é Filosofia... o que pensar da natureza humana... a saudoZa Zuleika ainda provoca risos e para minha surpreZa um misto de vários sentimentos e emoções... Não esquece que sou seu fã e que pra mim você é simplesmente o CARA.
Adriano

marcos fernando kirst disse...

Caro Adriano!
Escrevi esse texto revivendo a personagem Zuleika justamente em homenagem ao amigo, fiel leitor... sabia que nao iria deixar passar batido... hehehehehe. Grande abraço
Marcos K