sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A utilidade do dedo

(Todos os meus dedões em ação, tentando domar a esperteza de meu telefone esperto)


Enfim, ingressei na era digital. E isso literalmente falando, porque quem me conduziu a esse novo status foi meu dedão da mão direita, que se revelou um expert em questões digitais. Agora pertenço à casta dos cidadãos planetários que utilizam o dedão para se comunicar com o mundo, dedilhando com ele as teclas do meu moderníssimo telefone celular. Ele, meu dedão, entrou em cena na condição de protagonista desde que ganhei um smartphone, que, como sugere o nome estrangeirado do aparelho, trata-se de um telefone celular esperto, cujos comandos respondem ao toque do dedo na tela (isso se chama touchscreen, ok?).
Sempre invejava a inserção tecnológica representada pela galera que manipulava seus celulares usando com destreza o dedão da própria mão que segura o aparelho. Orangotangos não conseguem fazer isso, e eu me sentia um orangotango. Mas agora desci das árvores e estou inserido via meu dedão, que, após 45 anos de existência, ganhou uma função a mais: colocar-me em contato com o hodierno mundo das comunicações.
Antes, meu dedão servia para poucas e simples funções, como produzir o sinal de “positivo” quando desejava mostrar satisfação com algo, ou de “negativo” para aplicar em situações contrárias. Ele também era fundamental para represar todos os demais dedos na posição de punho fechado sempre que eu me indignava com notícias políticas cabeludas. Agora, ele toca suavemente a tela de meu smartphone para abrir e-mails, tirar fotos, fazer ligações, navegar na internet etc. Refinou-se no uso, esse meu dedão.
Mas o problema é que ele continua sendo um grosso. Apesar de inserido tecnologicamente, segue sendo o grosso dedão que sempre foi, e insiste, devido à grossura que lhe é peculiar, em apertar duas ou três teclas ao mesmo tempo na delicada tela, causando-me constantes embaraços tecnológicos. Acabo telefonando para quem não quero, desligando o telefone na hora de aceitar uma chamada, apagando e-mail importante, desconfigurando o despertador e assim por diante. Tenho tentado colocar o dedinho nessas tarefas, mas as cãibras na mão têm me matado. Acho que não fui projetado anatomicamente para navegar com facilidade nesse admirável mundo novo digital...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 2 de setembro de 2011)

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