sábado, 9 de julho de 2011

Final da primeira etapa

Quem chega aos 45 anos de idade habilita-se a crer que cumpriu com relativo sucesso o primeiro tempo que lhe foi concedido na partida da vida. Pena que os 15 de intervalo não sejam computados na soma total do jogo. Pior do que isso é descobrir que, na verdade, não há intervalo algum e a trama segue direto segundo tempo adentro, sempre correndo atrás da bola.
O que é preciso agora é rezar para conseguir jogar com dignidade o segundo tempo inteiro e atingir os 90 completos, o que já se caracterizaria como uma partida de bom tamanho. Os acréscimos, como bem se sabe, ficam por conta do bom humor do Juiz nosso que está em campo. Uns três ou quatro a mais são sempre bem-vindos, mas não dá para contar com isso e a partida pode ser repentinamente encerrada no tempo regulamentar. Ou antes, dependendo de conjunção de fatores normalmente alheias à vontade do jogador, que sempre é a de estender a disputa ao máximo. Ninguém deseja escutar o apito final.
O foco principal ao adentrar inexoravelmente na segunda etapa da partida é continuar perseguindo o gol e marcar o máximo possível de tentos, para contrabalançar com os tentos inevitavelmente sofridos ao longo do primeiro tempo. O ritmo agora, porém, já será outro, e é preciso saber dosar as energias que ainda restam. Na verdade, a intensidade do desempenho do jogador na segunda etapa vai derivar diretamente de como ele se preparou para enfrentar a partida inteira.
Fundamental é ter a torcida a favor, e é um alento saber que, na maioria das vezes, ela incentiva e não joga contra. Mas não dá para esconder que, a partir de agora, vai-se jogar mantendo um olho permanentemente na direção do banco, no lugar ocupado pela equipe médica. Tomara mesmo é que não seja necessária uma substituição antes do tempo previsto. Até porque, nesse caso, substituições são inimagináveis: ninguém jogará seu jogo por você. Para quem está despreparado, mais 45 podem se configurar como um suplício. Mas para quem entra em campo todas as manhãs com disposição para driblar a zaga adversária e pelo menos tentar o gol, a segunda etapa pode ser um reservatório de ótimas emoções. Nesse caso, a partida jamais termina empatada.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 8 de julho de 2011)

2 comentários:

Emir Ross disse...

Quando Paulo Santana completou 70 anos, escreveu uma crônica dizendo que finalmente podia morrer, estava satisfeito. Que bom que, ao te ver completar 45, ainda queres outros tantos. Assim, poderemos saborear muitos textos como este. Parabéns.

marcos fernando kirst disse...

Carissimo Emir
Grato pela leitura e pelo comentário. E que venga o segundo tempo... hehehe.
Abs