segunda-feira, 16 de maio de 2011

Arma de brinquedo também mata

Está de novo na ordem do dia a questão sobre o desarmamento da população brasileira. Na metade da década passada, promoveu-se uma campanha nacional nesse sentido, em que o cidadão comum foi convidado a trocar as armas que tinha em casa por um ressarcimento simbólico em dinheiro, entregando-as nas delegacias de polícia. A intenção que move os proponentes e defensores da ideia é a melhor possível, uma vez que se embasa na teoria (ou na esperança) de que menos armas em circulação produzem, por conseqüência direta, menos violência e mais segurança.
Os contrários contra-argumentam apresentando o crescimento incessante dos índices de violência em todo o território nacional, com ou sem campanha de desarmamento, e o processo ininterrupto de obtenção de armas justamente pelos criminosos, que as usam contra os cidadãos indefesos e contra os agentes da lei, da segurança e da ordem. A verdade é que as armas chegam às mãos dos criminosos por meio das brechas que eles encontram e criam dentro do sistema legal, a partir do contrabando, da corrupção e do roubo de armamentos. Ou seja, é justamente a falha do Estado nessas áreas que permite o armamento da bandidagem. Necessário é, pois, investir mais nos mecanismos de controle de fronteiras, de combate ao contrabando e na erradicação da criminalidade, ao invés de tentar curar a doença do pé ampliando o problema da mão, liberando geral o uso de armas pela população.
Eu concordo com a tese de que, quanto menos armas às voltas, menos tiros; e quanto menos tiros, menos mortes e menos violência. E vou além. Concordo com todas as iniciativas de legisladores que defendem a erradicação das armas de brinquedo. Alguém será que consegue me demonstrar onde está a ludicidade e a pedagogia da manipulação de uma arma de brinquedo por uma criança? Quem brinca com arma brinca de fazer o quê? Ora, de dar tiros. E dar tiros de mentirinha evoca o que na vida real? Ora, violência. Desejamos nossos filhos brincando de serem violentos? Brincando de mirar na cabeça do amiguinho e dizer “pá, pá, pá, você morreu”...? Brincando de invadir a casa de Bin Laden e crivá-lo de chumbo? Ou de invadir a escola e metralhar todos os ex-colegas e professores? Não é esse o tipo de brincadeira que desejarei estimular em meus filhos, quando eu os tiver.
Eu tive revólver de espoleta quando criança, nos anos 70, quando brincava de mocinho-e-bandido. Tive também espingarda de pressão, com a qual assassinei alguns passarinhos quando tinha dez anos de idade, e hoje me horrorizo com o que fiz, na aparente inocência da infância. Envergonho-me desse episódio em minha biografia, e não me perdoo quando o recordo. Analisando em retrospecto, o que posso perceber é que arma, de qualquer espécie, mata. As de verdade, matam gente. As de brinquedo, matam a inocência. Precisamos cultivar uma nova geração mais consciente em termos de ecologia, de convivência cidadã e pacífica. Para o bem da continuidade da espécie.
(Crônica publicada no jornal Informante, de Farroupilha, em 13 de maio de 2011)

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