domingo, 10 de abril de 2011

O valor das crônicas

Uma das funções de um bom cronista é lançar novas luzes sobre assuntos que estão na pauta do dia das pessoas, auxiliando-as a refletir a partir de um outro viés. Poderíamos dizer que nossa função é descortinar o novo, desbravar nuances, surpreender pelo inusitado, causar espanto, suscitar a reflexão, melhorar o mundo, apaziguar os lares, promover a paz, sermos amigos da natureza e... opa, me empolguei. Acontece, às vezes. Desculpem. Mas vejam bem: alguém aí já percebeu um troço que eu notei dia desses, quando a tevê estava ligada na hora da novela? Não? Pois então, aí é que está, vou revelar um novo viés, trazer o inusitado para o debate, gerar discussão, surpreender e coisa e tal. Especialmente porque, em se tratando de novelas televisivas, a audiência da crônica seguramente sobe às alturas. Então, é o seguinte: vocês já perceberam que todos os personagens das novelas, sejam eles ricos ou pobres, mocinhos ou vilões, abobados da enchente ou espertinhos, altos ou baixos, belos ou feios, residem todos (mas todos todos todos todos) em casas cujas portas dão diretamente para a rua? Em casas totalmente inseguras, sem grades, sem portões, sem muros protetores e, quando em condomínios, ainda sem porteiros eletrônicos e sem guardas privados? E mais: nenhum deles (nenhunzinho sequer) tem grana para cravar um olho mágico na porta? Já notaram? Sim, porque, nas novelas, um dos momentos de maior tensão e espanto é quando alguém bate à porta da casa, ou toca a campainha, e o personagem que está dentro da residência nunca, mas nunquinha, sabe de quem se trata. E pior: ele sempre abre a porta, impulsivamente, e tcharannnn! Leva aquele baita susto! “Oh, é você, Agenor! Como me achou aqui?” Como é possível? Como é que Agenor chegou até a porta da casa da Roxane? Ele pulou o muro? Ele esfaqueou o vigia? Ele explodiu a caixa do porteiro eletrônico? Ele envenenou ou estrangulou os rótivândalos e os bradpittbullyngs que protegiam o quintal? Ele tem superpoderes espectrais? Não, leitores. É simples. É tudo ficção. Podem dormir apaziguados e aguardar por outra elucidativa crônica na semana que vem. (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 8 de abril de 2011)

Um comentário:

Anônimo disse...

Hahaha! Putz, fas muito tempo que não presto tempo e atenção às novelas, mas quando passo de relance, realmente... não tinha me dado conta!
:-O

Não sei se é ficção, hein! De repente, nos condomínios fechados e cenariados das emissoras, os únicos verdadeiros problemas são os vilões da trama - aí não precisa nem de campanha fajuta a favor do desarmamento...

J.Cataclism