domingo, 24 de outubro de 2010

Velho, quem?

Tenho comigo a impressão de que o legado deixado pelo rock and roll à humanidade tem um alcance muito mais profundo do que apenas uma revolução de costumes e de atitudes ligada a conceitos como rebeldia, liberdade, contestação e outros. Quando vejo na ativa, em plena forma física e criativa, figuras como Bob Dylan, Mick Jagger, Paul McCartney, Eric Clapton, Ringo Starr, Neil Young e outros dinossauros, todos quase septuagenários, concluo que essa turma tem grande parcela de responsabilidade pela revolução do conceito de velhice que a espécie humana está vivenciando nos tempos modernos.
É interessante constatar que esses próprios artistas, no início de suas carreiras, lá pelos idos dos anos 60, com 20 e poucos anos, não concebiam vislumbrar a si mesmos ainda na ativa no cenário rock quando ultrapassassem as idades de seus pais, aos 40 e poucos anos de idade. Para eles, o lema era desconfiar de quem passasse da casa dos 30. Para a surpresa deles e do mundo todo, as feras do rock viraram quarentões tão ativos e criativos (alguns deles ficando ainda melhores com a chegada da maturidade) quanto o eram na juventude, e perceberam que não havia razão alguma para que pendurassem as guitarras e fossem jogar dominó.
E como quando se começa a descer uma ladeira a velocidade só tende a aumentar, logo acordaram cinquentões e, dois pulinhos mais tarde, estavam sessentões e compondo e cantando e tocando e gravando e arrastando multidões para seus shows, apesar dos cabelos brancos, das rugas nas faces, dos filhos adultos e do crescente séquito de netinhos que os fazem corujas e orgulhosos. Nem mesmo o Jethro Tull defende mais a sentença que pretendia enterrar o rock sob a palheta da juventude. “Too young to die, too old to rock and roll” (“jovem demais para morrer, velho demais para o rock and roll”) virou uma frase preconceituosa, sem sentido e anacrônica, já que os próprios velhos roqueiros provam que não existe idade limite para o rock.
Junto a isso, provam e demonstram que também não existe idade para conquistar e realizar sonhos, para viver, para fazer rock, para amar, para ser, enfim, feliz. Yeah, yeah, yeah!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 22/10/2010)

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